O silício (Si) é um dos elementos mais abundantes na crosta terrestre, desempenhando um papel crucial nos processos geológicos, hidrológicos e biológicos. Nas águas subterrâneas, o silício está presente principalmente na forma de ácido ortossilícico (H₄SiO₄), uma forma solúvel e biodisponível que pode oferecer benefícios à saúde humana. Apesar disso, a legislação brasileira ainda não classifica formalmente as águas silicatadas, e estudos sobre suas aplicações terapêuticas são escassos.
Distribuição do Silício nas Águas Subterrâneas Brasileiras
O estudo analisou 322 ocorrências de silício em águas subterrâneas no Brasil, revelando concentrações anormalmente elevadas em diversas regiões. As concentrações variam significativamente conforme a geologia local:
- Rochas Cristalinas: Granitos e gnaisses apresentam concentrações entre 4 e 10 mg/L de Si.
- Basaltos: Concentrações em torno de 20 mg/L.
- Arenitos: Médias de 12 mg/L.
- Xistos: Cerca de 9 mg/L.
Destacam-se algumas localidades com teores excepcionalmente altos:
- Santa Cruz do Ararí (PA): 462,1 mg/L.
- Cachoeira do Ararí (PA): 433,8 mg/L.
- Lagoa Seca (PB): 285,0 mg/L.
Esses valores sugerem um potencial significativo para o aproveitamento dessas águas em aplicações terapêuticas e nutricionais.
Fatores que Influenciam a Solubilidade do Silício
A solubilidade do silício nas águas subterrâneas é influenciada por diversos fatores:
- pH: A solubilidade é constante na faixa de pH 2-9, com aumento significativo em pH extremos.
- Temperatura: Temperaturas mais altas aumentam a solubilidade da sílica.
- Presença de CO₂: O CO₂ promove a transição da sílica em solução.
- Composição Mineral: A presença de alumínio e fluoreto pode causar a precipitação da sílica.
Além disso, a interação com minerais secundários recém-formados, como argilominerais, pode reduzir a concentração de silício na fase aquosa, pois esses minerais absorvem os íons de silício disponíveis.
Bioatividade e Benefícios à Saúde
O silício desempenha um papel importante na saúde humana, especialmente na formação de tecidos conjuntivos, ossos e cartilagens. Estudos sugerem que a ingestão diária recomendada de silício varia entre 35 e 45 mg. A principal fonte de silício biodisponível é a água mineral, que contribui com 20% a 50% da ingestão total diária.
Benefícios associados ao consumo de águas ricas em silício incluem:
- Prevenção da Osteoporose: O silício auxilia na mineralização óssea.
- Redução da Toxicidade do Alumínio: O silício pode reduzir a biodisponibilidade do alumínio, associado a doenças neurodegenerativas.
- Propriedades Antioxidantes: Estudos indicam que o silício pode inibir a peroxidação lipídica.
Além disso, águas silicatadas têm sido utilizadas em balneoterapia e crenoterapia para tratar doenças dermatológicas, respiratórias e metabólicas.
Potencial Terapêutico e Aplicações Internacionais
Internacionalmente, águas ricas em silício são reconhecidas por seus benefícios terapêuticos. Exemplos incluem:
- Fiji (Japão): Águas com 39,7 mg/L de Si são utilizadas para tratar doenças ósseas e musculoesqueléticas.
- Fonte Tersinka (Rússia): Águas com 37 mg/L de Si são utilizadas em inalações para tratar doenças respiratórias.
- Trenčianske Teplice (República Tcheca): Águas com 18,9 mg/L de Si demonstraram propriedades antioxidantes.
Esses exemplos destacam o potencial das águas silicatadas brasileiras para aplicações terapêuticas semelhantes.
Concluindo, o estudo evidencia a ampla distribuição e as altas concentrações de silício nas águas subterrâneas brasileiras, especialmente em regiões com determinadas características geológicas. Dada a bioatividade do silício e seus benefícios à saúde, há um potencial significativo para o aproveitamento dessas águas em aplicações terapêuticas e nutricionais. No entanto, a ausência de regulamentação específica sobre águas silicatadas no Brasil destaca a necessidade de estudos adicionais e da formulação de políticas públicas para o uso sustentável desses recursos hídricos.
Referência:
Lazzerini, F. T., & Bonotto, D. M. (2014). O silício em águas subterrâneas do Brasil. Ciência e Natura, 36(2), 159–168. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/4675/467546173010.pdf